Uma pesquisa da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) mostra que, no terceiro trimestre do ano passado, 46% dos entrevistados declararam ter a intenção de comprar um imóvel.
Esse é um dos motivos pelos quais o presidente da entidade, Luiz França não compartilha da visão de que a piora do cenário econômico levará a uma queda de 15% a 20% no volume de financiamentos bancados por recursos da poupança.
Os números constam em estimativa divulgada pela Abecip, que reúne as entidades que operam o crédito imobiliário no Brasil, divulgada no fim de janeiro. Com o cenário, o montante recuaria dos 187 bilhões de reais registrados no ano passado para cerca de 155 bilhões de reais. A previsão, contudo,
“Não acredito em uma queda tão abrupta. As pessoas continuam com a intenção de comprar imóveis”, expressou Luiz.
A recente pesquisa da Abrainc aponta que a fatia de cidadãos interessados em adquirir um imóvel é 10 pontos percentuais maior que os 36% que disseram a mesma coisa doze meses antes. O presidente da Abrainc lembra que, em setembro passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central iniciou um novo ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic. Estacionada em 10,5% ao ano desde maio, a Selic subiu para 10,75% em setembro, uma decisão amplamente antecipada pelo mercado e pela imprensa.
“Nossa pesquisa prova que aumentou a intenção de compra, mesmo no cenário do terceiro trimestre, em que os juros já voltavam a subir”, diz França.
A entidade reconhece que o aumento dos juros dificulta a vida das incorporadoras e dos clientes, mas não a ponto de afetar drasticamente o mercado. De acordo com o mesmo levantamento, 37% das pessoas que queriam comprar uma casa em setembro buscavam sair do aluguel, 17% queriam um imóvel maior e 11% planejavam morar sozinhas. Mesmo com possíveis altas nas taxas de juros e piora econômica, França acredita que 51% dos interessados ainda irão comprar, principalmente aqueles que desejam sair do aluguel.
A Abrainc destaca que, apesar da Selic poder chegar a 15% até o final de 2024, os juros do crédito imobiliário não acompanharão esse patamar. Isso ocorre porque a principal fonte de recursos do setor, a poupança, tem rendimento inferior a 6% ao ano.
Embora a captação líquida da poupança esteja negativa desde 2021, levando a uma queda no saldo, a Caixa Econômica Federal impôs regras mais rígidas para concessão de crédito, como exigência de maiores entradas e limite de financiamento de imóveis até 1,5 milhão de reais.
Mesmo assim, o mercado buscará outras fontes de financiamento, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), que oferecem benefícios fiscais. Embora essas alternativas precisem remunerar próximo ao CDI, elas complementam o financiamento da poupança, permitindo que as taxas ao comprador não se equiparem à Selic. A legislação também limita os juros do financiamento com recursos da poupança a 12% ao ano, mais a TR.
Adicionalmente, se um banco tentar aumentar os juros, o tomador pode pedir a portabilidade do financiamento para outra instituição com condições melhores. O Banco Central promete intensificar essa opção neste ano.
“Ninguém precisa travar a taxa de juros do financiamento por trinta anos”, diz França. “A portabilidade serve para isso.”
